domingo, 9 de junho de 2013

CELTON (BIOGRAFIA DO AUTOR, LACARMÉLIO)
Nota: em construção. Virão fotos, videos, etc.


Meu nome é Lacarmélio Alfêo de Araújo, 54 anos de idade, mais conhecido por "Celton",  nome de uma revista em quadrinhos que eu faço e vendo pelas ruas de Belo Horizonte, principalmente engarrafamentos de trânsito, desde 1981.
17-05-1959 — nascimento em Itajutiba, município de Inhapim-MG; de Inhapim, eu com um ano de idade, fomos (nossa família) para Itabirinha de Mantena-MG, onde vivi minha infância até os 13 anos.
1972  — mudança com a família para Belo Horizonte. Começamos num barracão alugado de 3 cômodos sem água, fundos, bairro Vera Cruz. Com 13 anos eu vendia picolé, mexericas, salgadinhos, etc e também engraxava sapatos no Parque Municipal para ajudar em casa. Essa formação na rua definiria, comercialmente, a revista, quando adulto.
Sempre gostei de escrever e desenhar histórias em quadrinhos, desde criança em Itabirinha. Eu lia e colecionava os quadrinhos da época, mas na cultura daquela década de 1960, crianças abaixo de 13 anos não podiam ler quadrinhos de super-heróis, assim minha mãe só me deixava ler Tio Patinhas, Pato Donald, Tininha, Luluzinha, Brotoeja, Manda-Chuva, Pinduca, etc. Mônica ainda não existia. Mas eu gostava mesmo era do estilo aventura, principalmente Tarzan e Thor, publicados pela Ebal, na minha opinião a precursora de quadrinhos no Brasil. Gostava também de Fantasma, Mandrake, Tex, Cavaleiro Negro, Capitão América, Flash, Gavião Negro, Zorro (existiam dois Zorros: um da Ebal com o índio Tonto e um da Abril com o Sargento Garcia). Em 1969 a Ebal lançou simultaneamente quatro heróis: Homem-Aranha, Demolidor, O Judoka e Aquaman. O que emplacou mesmo foi o Homem-Aranha, principalmente quando o desenhista inicial Steve Ditko foi substituído por John Romita e John Buscema.
Sempre esboçando história em quadrinhos, em 1975 criei Celton, identidade secreta de um super-herói, o Homem-Felino, produzindo 28 fanzines com ele. Puramente paixão. Engraxate, eu deixava os fregueses lerem os gibis caseiros, enquanto engraxavam comigo. Histórias de continuação para voltarem sempre.
Primeiro emprego de carteira assinada foi empacotador de supermercado.16 anos. Nesse período aprendi datilografia numa máquina Remington velha do meu irmão João Geraldo. Ele era contabilista. Depois, trabalhei de auxiliar de escritório e escriturário. Em escola, estudei até o segundo ano do segundo grau. Em casa, vivo estudando sempre.
Aos 18 anos, fiz várias viagens atrás das editoras de quadrinhos em São Paulo e Rio de Janeiro. Por falta de grana, uma das viagens para São Paulo foi de bicicleta. Quatro dias.
Cansado dos "nãos" das editoras, convenci minha mãe a fazer um empréstimo bancário, publicando Celton pela primeira vez, por conta própria, em agosto/1981.
Fracasso total de vendas nas bancas e as prestações do empréstimo vencendo. Minha mãe não tinha como pagar. Eu tinha largado o meu emprego para tentar a revista.
Então, desesperado, parti para vender na rua, principalmente na tradicional área de bares da zona sul de Belo Horizonte chamada Savassi.
Percebendo que a revista não se sustentava, aluguei uma sala na avenida Amazonas para trabalhar como desenhista de impressos gráficos, profissão que descobri nos meus contatos com as gráficas que imprimiam a revista. Ainda não existia computador, o material era nanquim, normógrafo, prancheta, compasso, papel vegetal, etc. Aprendi com detalhes a profissão gráfica, o que seria útil para a revista anos depois.
Bancado de certa forma pela profissão, continuei produzindo e vendendo quadrinhos por toda a década de 1980.
Em 1990, endividado pelas publicações, fui para Nova Iorque, Estados Unidos, atrás de grana. Entre outras atividades, consegui o dinheiro cantando Beatles nos pontos do metrô, com um violão. Após seis meses voltei para Belo Horizonte e publiquei quadrinhos até 1992, vendendo nos bares, como sempre. Sentindo que os problemas financeiros iam recomeçar, parei definitivamente e montei uma mini-gráfica estilo fundo de quintal, dentro da minha condição financeira.
Mas não consegui ficar longe das publicações, é um chamado que toma conta de mim. Apesar de todos os problemas financeiros, eu me sentia vivo e feliz.

1998, O RECOMEÇO.
Seis anos depois, em 1998, mais decidido do que nunca, reformulei tudo para tentar de novo. Eu não queria ser mais um colocando a culpa dos meus fracassos no sistema, na ausência do pai que nunca tive ou naquela conversa que não suporto de que "no Brasil não se consegue viver de arte".
Dei um pente fino em mim mesmo caçando os erros. Se tinha tanta boa vontade e tanta luta, por que nunca dava certo?
— Disciplina;
— Continuidade do projeto até o fim;
— Administração e controle dos trocados financeiros, administrar um real é o mesmo que administrar um milhão;
— Influências das amizades;
— Aparência no visual, no palavreado e no comportamento, pois ninguém me vê do jeito que eu acho que estão me vendo;
— Simplicidade;
— Saber ouvir os conselhos dos familiares; mesmo querendo criticar, a visão do outro é diferente da minha, sempre é bom ouvir para somar.
— Ter consciência de que um erro idiota pode por tudo a perder. Mas também não ficar bloqueado por causa disso pois, se existir estrutura para segurar um erro, vá! A estrutura tem que ser construída, não vem de graça.
— Curtir a vida não é farrear, curtir a vida é progredir e conquistar aquilo que tem valor para mim, inclusive como pessoa; eu não conheço diversão maior do que alcançar um objetivo.
— Mais fé ainda.
Nas publicações do começo da década de 1980 os meus personagens tinham nomes estrangeiros, influência dos quadrinhos que lia. Cortei. A proposta agora era colocar Belo Horizonte interagindo com o herói Celton. Passei a estudar a cidade e a história de Minas. Computação gráfica.
A venda nos barzinhos, em termos de viver da coisa, não era o caminho. Timidamente, entre outras tentativas, experimentei os sinais de trânsito e, farejando uma possibilidade por ali, desenvolvi um estilo próprio de venda. Dedicação integral, tanto na produção quanto na venda, nada de só na hora que "dá vontade", como normalmente é o erro fatal de quem trabalha por conta própria.  Consegui comprar uma moto, expandindo o raio de ação.
A partir de então, finalmente comecei a viver financeiramente da revista. Não era muito, mas parecia que uma pedreira intransponível fora vencida. Senti-me como se tivesse achado a fórmula, sim, e as coisas começaram a acontecer, depois de quase vinte anos de fracassos e algumas gozeiras de amigos, tipo: “você é um sonhador”, “não vai chegar a lugar nenhum”, etc.
No começo de 1999, a Rede Globo e a Rede Minas me lançaram na mídia, desencadeando uma série de entrevistas em outras mídias de Belo Horizonte, além de algumas nacionais. Meus eternos agradecimentos.
Em 2007 a Petrobras me convidou para uma produção especial de Celton que distribuiu gratuitamente cem mil exemplares pelas ruas de Belo Horizonte e Tiradentes. Em 2008 novo convite, exclusivamente para um evento muito importante, a Bienal do Livro. Senti-me muito honrado, uma sensação de realização fora do comum, de que todos os desafios para chegar até aqui foram válidos:  Obrigado, Petrobras!
Destaque, também, para a Suggar, fabricante líder de eletrodomésticos em Minas Gerais: convidou-me para produzir uma revista exclusiva, mirando uma campanha publicitária nacional. O resultado foi tal que, no seguimento, fui convidado para mais duas produções, e atualmente a Suggar é anunciante de Celton, além do respeito e da bela amizade que surgiu. Obrigado, Suggar!
Em julho 2008 a Skol me convidou para participar de um comercial, gravado em Porto Alegre, RS e Florianópolis, SC, lançamento nacional. Obrigado, Skol!
Agora, além de em Belo Horizonte, estou vendendo também em São Paulo. A vocês, paulistas, muito obrigado pela recepção em sua cidade. Tenho muitos planos de publicações exclusivas para vocês.
Atualmente, também, dou palestras contando esta história de paixão pela arte, idealismo e dedicação ao trabalho.
No mais, a revista continua como sempre: feita em casa e impressa em off-set em gráfica. É bancada pelos leitores que a compram pelas ruas, e por alguns anunciantes como Suggar, Hotel Tauá, Rúbio Muradas, etc, que me honram, anunciando seus negócios em “Celton”.
A todos, eternos agradecimentos!
Celton (Lacarmélio Alfêo de Araújo)